Um ano desde
que o vi pela primeira vez, lembro-me como se fosse ontem. Ele cruzou a porta
da sala já atrasado para o primeiro tempo. Ele conversava com outro garoto que
até o momento também era um desconhecido para mim. Comentou algo que pareceu
engraçado, pois ambos riram, e eu mesmo sem saber do que se tratava também
sorri lá do fundo da sala.
Ele não me
notou, ao menos eu acho que não. Mas desde aquele instante, desde aquele
segundo eu senti algo diferente, algo que neguei por algum tempo.
Quando se
trata do amor nós somos covardes... nós?
Nós quem??
Na verdade, o
covarde sou eu. Como eu queria poder segurá-lo pelo braço e dizer: “Cara, eu te
amo”. Cresci ouvindo as pessoas dizerem
que um garoto deve amar uma garota, que um homem deve amar uma mulher, mas
sempre soube que eu também amava os garotos. E por conta disso, sinto-me
constrangido por esse sentimento, um sentimento que o mundo privatizou como
sendo possível somente por ‘heteros’.
Uma amiga lésbica me perguntou por esses dias se eu acreditava em amor
entre pessoas do mesmo sexo. Respondi
que “Sim, eu acredito que pode haver esse sentimento bem forte, pois amor é
amor independente do sexo.” Então eu sou um homem que ama outro homem.
Não sei como
ser um hetero, bissexual ou um gay totalmente resolvido, confesso. Ainda nem
sei em que categoria me posicionar, a começar pelo fato de que eu odeio essa
coisa de ser ‘taxado’ como sendo algo, como se eu fosse um ser imutável, ou
como se eu só me definisse como sendo aquilo e caísse em um estereótipo. Ok, eu
sou gay, mas existe algo para além disso. Sou um ser humano complexo e tenho
todas essas vicissitudes.
Por conta desse
garoto que mexeu com todos os meus sentimentos, que de alguma forma me libertou
desse meu preconceito comigo mesmo, consigo me ver de uma forma diferente da de
antes, consigo me aceitar. Era como se eu houvesse entrado em um casulo e ele
tivesse sido congelado, preso por paredes que me moldavam em um padrão, mas toda
lagarta em um casulo espera pelo seu momento de eclosão, e o meu chegou.
Ainda não sou
um homem totalmente resolvido. Tenho meus conflitos diários, minhas dúvidas,
minhas incertezas. Mas acredito que isso faz parte do homem enquanto ser. Um
humano em constante evolução.
Eu espero
descobrir como me relacionar com tudo
isso e saber como contar pro meu melhor amigo que eu o amo.
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